A Verdadeira Verdade das Nossas Finanças Públicas




Embora a entrevista tivesse como móbil a apresentação do livro editado a maior parte do tempo foi passado a tratar o conteúdo do mesmo.
Imprópria para os mais facilmente impressionáveis, ingénuos ou adormecidos, não há forma branda de se ouvir a verdade que este senhor relata.

Para aqueles que dizem que a situação não é tão grave, e que estamos apenas, como a Espanha e a Irlanda, a ser vítimas da especulação dos mercados financeiros no que toca à escalada da taxa de juro na emissão de dívida pública, a resposta é simples, nada mais errado. Não é o valor do défice, actualmente previsto pelo governo português para 2010 de 7,3%, que espelha o verdadeiro estado das contas públicas mas sim os 6,39% de taxa de juro da dívida pública a 10 anos(recorde estabelecido no dia 21 de Setembro) que reflectem a análise global feita pelas agências de rating e mercados internacionais. Lembrem-se que foi a escalada desta taxa que levou à saída do, actualmente em discussão, PEC 3.
Todos sabemos, andemos mais ou menos distraídos, que as empresas municipais não só não têm as contas em ordem como são dependentes de subsídios do estado através das próprias câmaras, para além de na sua maioria estarem altamente endividadas . A somar a isso temos as empresas públicas da administração central como a CP ou a Estradas de Portugal cuja situação é igualmente grave.
Se tudo isto não era não só mau como péssimo, não nos podemos esquecer que se o governo de Sócrates não caiu ao final do 1º mandato foi porque ainda lavou a vista de muita gente com novos investimentos ao abrigo de iniciativas público/privadas cujos verdadeiros custos só se começarão a sentir em 2014.
Ora tendo tudo isto em conta, tal como diz o senhor Juiz Carlos Moreno, todas estas dívidas contraídas por estas empresas não constam do Orçamento de Estado e como agravante, nos últimos meses de crise, temos assistido a transferências de capital de algumas destas empresas, nomeadamente empresas municipais, para as câmaras por forma a tapar os buracos das contas públicas, muitas vezes em prejuízo das finanças destas mesmas empresas municipais.
Resumindo, o que está a ser feito pela classe política e pelos gestores por eles nomeados é a dissimulação da real situação através das tão faladas "operações de cosmética financeira" tendo em vista mascarar, aos olhos de Bruxelas e do Banco Central Europeu, a nossa incapacidade de fazer face, não aos investimentos, mas às contas correntes de toda a máquina do estado.
Eu não sou economista, limito-me a ser um curioso e atento espectador com conhecimentos básicos de finanças, mercados bolsistas e cambiais, mas ao montar as peças deste puzzle não posso deixar de pensar que pelo facto de termos um povo incapaz de pensar a nível nacional e totalmente inconsciente do que implica ser cidadão europeu, acabamos por ter políticos que sabem ser impossível reconhecer esta realidade perante o país, sob pena de voltarmos a ter governos de gestão atrás de governos de gestão e orçamentos baseados em duo décimos.
A pergunta que deixo é esta: quantas gerações é preciso para pagar o investimento feito nos últimos 20 anos que por muito útil e por muito boas condições de vida que tenha trazido foi simplesmente mal gerido? Este senhor Juiz ainda vai ter direito à sua reforma bem como os pais da minha geração, e quem agora dá entrada no mercado de trabalho, terá direito a reforma?
Posto isto e reconhecendo que o povo português não tem um nível de literacia médio suficiente para que a maioria perceba o que realmente se passa, para além da crónica falta de interesse pela política nacional, será impossível para qualquer governo neste país tomar as atitudes necessárias para começar desde já a resolver este problema que é estrutural, sistémico e reside em grande parte na mentalidade do nosso povo.
Resta-me terminar dizendo que para bem do nosso país a longo prazo e acreditando que o estado social tem condições de sobreviver mesmo que reduzido a 10% do peso que tem hoje, a nossa única solução é mesmo o FMI...

1 comentário:

disse...

Mais uma vez, se confirma que somos um país onde 90% são incompetentes, preguiçosos, espertos (em vez de inteligêntes) e, principalmente, de LADRÕES!
Claro que 90% dos políticos também são assim.. porque desses milhoes de dívidas que vamos ter de pagar, muito está no bolso daqueles que dizem que vieram perder dinheiro, trabalhando para o bem do "povo"