Amor



Pela primeira vez sinto-me confiante o suficiente para tentar definir esta palavra que apenas o ser humano é capaz de distinguir da química que os cientistas referem quanto ao reino animal. Não que esta não se aplique a nós mas, convenhamos, a mente humana tem as suas complexidades.

Primeiro que tudo terei de fazer uma ressalva, esta é a minha opinião fruto da minha experiência que, modesta mas vivida, é minha e apenas minha.
Este blog foi criado com o objectivo de me ajudar a registar todas as ideias que, mais ou menos criativas, assolam o deslumbramento de alguém que pensa demais em tudo o que o rodeia. No entanto mesmo esta palavra terá sido pensada poucas vezes por mim, talvez por isso mal empregue em algumas situações mas também é para isso que serve a experiência.

Hoje, e peço desculpa pela confissão, após pela primeira vez me considerar alguém que teve oportunidade de sentir o verdadeiro significado desta palavra, sinto-me um novato, mas um novato curioso, atento e sobretudo consciente do que representa esta palavra. Também por essa consciencia, apercebo-me que vou ter curiosidade em ler estas palavras daqui a 20 anos, e testar esta mesma teoria daquilo que é realmente o Amor e compará-la com o que sentirei nessa altura.

Amor é algo impossível de definir universalmente e talvez por isso uma palavra utilizada tantas vezes sem que lhe seja dado o devido sentido. Amor pode ser a forma carinhosa como um casal de idosos trata um do outro no fim das suas vidas, é a rapariga que se despede do rapaz na plataforma da estação do comboio, as lágrimas do mesmo rapaz que por vergonha, pressão da sociedade ou educação, apenas deixa cair ao olhar a paisagem durante a viagem, é o velho moribundo que chama pela sua companheira de vida anos após esta ter morrido nas noites que lhe custam a passar. Mas também pode ser o partilhar de uma refeição com uma boa conversa entre um casal, ou talvez não, muitos casais diriam que uma troca de olhares é suficiente, embora não concorde em absoluto, penso que apenas faz parte. É o beijo de boa noite que se dá aquela pessoa antes de imergirmos no nosso subconsciente na esperança de sonharmos com ela, é sentir que apenas faz sentido partilhar a nossa vida com aquela pessoa, principalmente os momentos maus pois, embora de maneira diferente, marcam-nos muito mais do que os bons.

Toda esta divagação tenta provar que a palavra Amor é indefinível, subjectiva e muitas vezes relativa à nossa experiência.

Afinal todos queremos amar, e todos idealizamos a pessoa perfeita mas a verdade é que nem todos temos a sorte de nos apaixonarmos por ela, a verdade é que é a mais imperfeita das pessoas que nos encanta, aquela que conhecemos aos poucos, aquela a quem vamos apontando os defeitos e que quando damos por nós passa a ser perfeita pois são aqueles defeitos que amamos e não a sua perfeição.
Na realidade a certa altura da relação apercebemo-nos que mais do que amarmos os defeitos, confiamos que essa pessoa é capaz de apontar os nossos e ajudar-nos a alterá-los, claro que muitas vezes isso não acontece, mas é tão bom podermos ser nós próprios com alguem que ama os nossos defeitos e não os aponta em vão ou por pura crítica destructiva. É neste ponto que a palavra Amor atinge o expoente máximo, mais do que amar os defeitos de alguém imperfeito e fazer essa pessoa sentir-se bem por isso, amamos o facto de esse alguém nos amar apesar das nossas imperfeições, e o verdadeiro amor na vida é aquele que existe entre duas pessoas que não têm imperfeições inaceitáveis uma para a outra. É aquilo a que popularmente se chama a duas pessoas que encaixam bem nas suas formas de ser, ou se completam. São apenas pessoas que amam os defeitos uma da outra e se sentem aceites pelo outro sem máscaras, sem vergonhas, segredos ou tabús.


Poderíamos então pensar que alguém assim pára no tempo, não altera a sua forma de ser pois sente-se bem com ela pela convivência com o seu amor, nada mais errado, e é aí que reside o desafio diário e constante da relação a dois. Tal como referi no principio, a mente humana tem as suas complexidades, factores como o humor, fase da vida, evolução normal do carácter humano ao longo da experiência acumulada, tudo contribui para manter cada individuo em constante mutação, cabe a cada um dos elementos do casal ser capaz de acompanhar o outro e garantir que continua a conhecê-lo, contribuir para a sua constante mutação tentando corresponder à importância que representa na vida da outra pessoa para que assim também possam partilhar experiências e crescer juntos.


Tudo isto requer muito mais do que amor obviamente, mas não somos nós que queremos o amor das nossas vidas? Talvez aquilo a que chamamos vulgarmente amor das nossas vidas seja um amor platónico relativo a uma pessoa imaginária que fosse estática em termos de desenvolvimento de carácter pessoal e por isso não requeresse nada mais do que amor, mas calma, estou a dizer que aquilo que acabei de definir como amor requer mais do que amor? E que ao mesmo tempo o amor não requer nada mais do que amor? Que confusão...

Nova tentativa, amor é aquilo que somos capazes de fazer por alguém tendo em vista a sua felicidade e por conseguinte a nossa própria, pois por amarmos essa pessoa a sua felicidade deverá fazer-nos feliz... É melhor parar, mais parece algo saído da revista Maria ou uma verdade inquestionável como a que cantavam os soldados do Marechal Jacques de la Palice, "Se não estivesse morto estaria vivo" mas na qual ninguém acredita verdadeiramente.

Veremos se é desta, tudo aquilo que manter uma relação exige ,pode ser mais ou menos fácil, de acordo com a situação mas principalmente de acordo com o amor que existe entre duas pessoas. Mas pode haver amor sem relação, no entanto o sentimento de querer agradar e o sacrifício que daí advém mantém-se. Coisas como o diálogo, a confiança, a sinceridade, a cumplicidade, o sentimento de partilha de uma vida alimentam-se do amor simultâneamente alimentando-o num ciclo vicioso que se nada falhar de todas as que já referi deveria persistir. Assim consigo definir amor, mas preciso de ajuda de outros termos para completar aquilo que todos queremos fazer quando o sentimos, transformá-lo numa relação embora esses termos estejam directamente relacionados com aquilo a que lhes dá origem.


Parece que desta vez correu melhor, não fui tão directo ao ponto e fui mais abrangente mas nunca disse que seria simples como as definições que constam no dicionário. Já agora termino deixando exactamente isso, aquilo que os linguistas, não tem nada a haver com beijos de língua, pensam ser o amor e portanto acharam digno de se por num livro que rege as palavras que fazem parte da comunicação que mantem vivo o Amor.


AMOR: A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atracção, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objecto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.

Um agradecimento especial à pessoa que me proporcionou a vivência necessária à escrita destas palavras (Wo ai ni).