8 Anos Depois, O Mundo Não Aprendeu



Faz hoje (20 de Março) precisamente 8 anos que se iniciou a guerra no Iraque. Esta guerra inicialmente prevista para durar apenas algumas semanas viria a durar mais de 7 anos acabando apenas em Agosto de 2010, embora haja quem defenda que ainda hoje perdura.

Com ela o mundo, os Estados Unidos, a Europa, e mais alguns países do chamado mundo ocidental deveriam ter percebido que cada povo, cultura, etnia ou região do globo têm os seus próprios equilíbrios civilizacionais, as suas complexidade e realidades próprias. Nada é preto ou branco e nenhum país ou região muda de uma ditadura milenar para uma democracia, seja ela imposta ou promovida por terceiros, sem que haja uma mudança de mentalidade que acompanhe a mudança, mas não.

Os soldados americanos esperavam ser vistos como heróis libertadores quando derrubaram o regime de Saddam Hussein, ao invés disso a maior parte das recepções provocaram mais de 4500 mortos e cerca de 32000 feridos só no período pós Saddam e apenas contabilizando soldados do exército americano, não incluindo portanto empresas de segurança militar contratadas pelo Ministério da Defesa Americano nem soldados de outros países como a França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Canadá ou Portugal.
Quanto ao número de mortos e feridos civis e militares do lado Iraquiano são incalculáveis.

Dada toda esta introdução custa a acreditar que precisamente 8 anos depois estejamos nas primeiras horas de mais uma guerra em que a comunidade internacional diz agir para defender um povo que tal como em tantos outros casos (Bósnia, Kowait ou Afeganistão, só para citar alguns) deveria ter o direito de evoluir ao seu próprio ritmo, e fazerem as suas próprias revoluções sem interferências externas com segundas intenções sistematicamente económicas.
Quando se deu a guerra civil americana ninguém se meteu, quando a China invadiu o Tibete ninguém se meteu, quando a Indonesia ocupou Timor Leste ninguém se meteu.
É este o nosso mundo, há os líderes criminosos que matam e os líderes salvadores que matam, a única diferença são os interesses económicos que defendem e a bandeira que empunham tenha esta a mesma imagem de ambos os lados ou imagens diferentes na sua frente e verso.

Vamos todos ficar quietos a assistir porque o petróleo está caro e a Líbia tem, para além de refinarias, um gasoduto que abastece o sul da Europa com gás natural.

Published with Blogger-droid v1.6.7

Manifestação da Geração à Rasca



Fui à manifestação, fui...
Nos dias que antecederam a manifestação fui acompanhando as notícias, confesso que não vi o festival da canção mas acompanhei os opinion makers entrevistados no telejornal e programas noticiosos, inclusivé as participações do Jel e do repreensível, no mínimo, Miguel Sousa Tavares. O objectivo era decidir se ia ou não, ver a base de fundamento para o protesto e construir uma opinião sobre o assunto, não a que me levava a manifestar-me mas se me identificava com as reivindicações do protesto.
Abri o site/blog da organização e procurei informação sobre a origem do movimento, imediatamente fiquei estarrecido, um protesto que me parecia fundamentado e coerente autodestruía-se à frente dos meus olhos à medida que lia.
Na carta aberta à sociedade civil encontrei as seguintes razões para a manifestação:

-Pelo direito ao emprego.

-Pelo direito à educação.

-Pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade.

-Pelo reconhecimento das qualificações, competências e experiência, espelhado em salários e contratos dignos.

Logo no primeiro ponto fiquei com vontade de ficar em casa, não acho nem concordo que um bacharelato, licenciatura, mestrado ou doutoramento sejam bilhetes com direito a um emprego ou mesmo trabalho(denotando as devidas diferenças).
Qualquer um destes graus de formação dotam-nos de ferramentas e bases necessárias ao desenvolvimento de um trabalho, projecto ou actividade e podem e devem ser utilizados para nos colocarmos à disposição da sociedade para contribuir com o nosso conhecimento para produção de riqueza e serviços que esta necessite, nunca o contrário, e portanto a sociedade não é obrigada a aceitar aquilo que estamos a oferecer independentemente de deles precisar só porque é isso que queremos ou podemos oferecer. Mais acrescento que não é obrigação do estado garantir emprego a ninguém, seja qual for a área ou o grau de formação, já bem basta o que fizeram pela geração dos nossos pais e agora todos iremos pagar a factura.
Se quanto ao segundo ponto nada tenho a dizer, já em relação ao terceiro volto a torcer o nariz, a que precariedade é que nos referimos? Se estamos a falar de haver estágios não remunerados ou pessoas a "trabalhar de borla" apesar de concordar volto a hesitar em imputar essa responsabilidade ao estado. Se uma empresa abre uma vaga para um estágio não remunerado e não aparecer ninguém para preencher a vaga essa empresa é obrigada a melhorar a oferta até que haja interessados. Resumindo, se há estágios não remunerados é porque alguém os aceita e por causa desses os outros vêm-se na situação de aceitar ou permanecer no desemprego por isso julgo discutível se esta situação deveria resolver-se dentro da classe profissional em causa, através de organismos como associações e ordens, ou e se seria mesmo necessária a produção de legislação para impedir que isto acontecesse.
Por outro lado, se ao falarmos de precariedade nos referimos aos recibos verdes, embora não seja muito entendido em matéria fiscal ou em lei laboral, parece-me que se trata de uma questão de conveniência por parte das empresas, visto que a nossa lei laboral permite pouca flexibilidade nos despedimentos, mesmo quando por justa causa e desta forma recupera-se essa falha num contrato à custa de remoção de regalias essenciais como o direito a férias, baixa ou segurança social. Em simultâneo o estado controla muito pouco os falsos recibos verdes que permitem fugas ao fisco, tanto da parte das empresas como dos próprios trabalhadores, já para não falar dos pagamentos de prémios em cheques de compras que são tributados como despesa nas empresas e nunca são alvos de pagamento de IRS por parte de quem recebe.
Ainda falando de precariedade parece-me essencial falar dos contratados a termo ou dos funcionários a recibo verde da função pública, local, regional ou nacional. Nestes casos o estado limita-se a preservar o direito de despedimento visto que é ilegal despedir um funcionário público, facto inacreditável na minha opinião e que faz com que tenhamos chegado a situação insustentável actual em que a quantidade de funcionários com contracto não se compadece com os serviços que deveria fornecer à sociedade.
Dito tudo isto penso que, apesar de superficialmente, deixo clara a minha apreciação sobre esta reivindicação, sem retirar razão aos manifestantes, considero que existem casos mais flagrantes que outros e em nenhum posso atribuir a culpa apenas a uma das partes.
Deixo ainda no ar o facto de que um trabalhador a recibos verdes, não tendo um vínculo contractual, pode prestar serviços para outra entidade ou empresa, mantendo assim em aberto a possibilidade de acumulação de avenças, funções e ordenados, coisa que os funcionários públicos com contrato se encontram impedidos de fazer.

Para juntar a tudo isto verifico através de uma entrevista do Expresso que os organizadores são 3 licenciados em relações internacionais indignados e fartos de estarem, ora desempregados, ora a trabalhar sem vínculo contractual a recibos verdes.
A primeira coisa que me deu vontade de perguntar foi, poderemos ser todos diplomatas ou prestar serviços de consultadoria sobre relações internacionais? Mas talvez estivesse a ter uma visão demasiado redutora da profissão, mas a questão permanece, cursos como Ciências da Comunicação, Publicidade e Marketing, História ou História da Arte ou Arqueologia, só para citar alguns exemplos são compreensivelmente limitados em termos de mercado de trabalho. Se eu tiro um curso do género saberei à partida que posso não ter emprego pelas mais variadas razões, qual a responsabilidade do estado pelo facto? Por me terem permitido tirar o curso numa universidade pública dá-lhes a responsabilidade de me garantirem emprego? A meu ver mais um tiro no pé.

Depois de tudo isto, considerando tudo o que li, ouvi e reflecti, para além de estar a chegar a um ponto em que me sinto impotente, farto de ficar em casa a assistir, essencialmente por não me rever nas razões de nenhuma manifestação, incluindo esta, pelo menos em absoluto, decidi participar.
Procurei quem fosse pelos motivos que considerasse próximos dos meus. Na minha faixa etária é muito difícil(tenho 25 anos), a maior parte está demasiado abstraída com todo o tipo de anestésicos, festivais de verão, reality shows e outros temos do género.
Solução, um grupo de pessoas, todos mais velhos que eu e já com idade para terem mais do que razões de sobra para estarem fartos de passar recibos verdes ou serem apelidados de geração rasca ou geração call center.

Aquilo com que me deparei na manifestação durante toda a tarde foi mais do que desanimador, excepto o facto de ter ficado surpreendido com a adesão e a quantidade de pessoas presentes, vi-me numa manifestação em que, como já ouvi alguém dizer, ninguém sabia qual a solução nem qual o caminho a seguir mas todos sabiam que não era este. As principais razões da minha desilusão são a falta de capacidade de autocrítica, dificuldade em fazer uma análise nacional e não apenas do seu próprio caso e a repulsa por aqueles que se rebelam apenas porque querem ver o governo cair independentemente de saberem que com isso nada se resolverá.
A crítica fácil, o insulto e o deita abaixo nada construtivo reinavam nos cartazes, o apelo ao seu próprio problema e o alheamento das soluções imperava, as palavras de ordem como "Nós só queremos ver o Sócrates a arder" tornavam o ambiente parecido com um estádio de futebol ou noutras situações a repetição daquilo que já deu tudo o que tinha a dar como "o povo unido jamais será vencido". Esperava mais, talvez ingenuamente mas esperava mais, de uma manifestação com uma média de idades entre os 30 e os 35 anos, 200 mil pessoas, a acreditar nos números da comunicação social que mais tarde consultei, tendo em conta que se tratam dos adultos mais jovens de hoje, esperava mais "trabalho de casa", reflexão, debate, troca de ideias com outras gerações, apontar os erros anteriormente cometidos e capacidade de orientação sobre qual os erros a não repetir, mas não. A maioria denota incapacidade de desenvolver uma raciocínio para além da pura demagogia, do contra por lhe estarem a ser retirados benefícios e incompreensão da realidade do país tanto económica como politica. A maioria dos que vi revolta-se porque aquilo que nunca deveria ter sido prometido não está a ser cumprido e não têm capacidade para ver que se o fosse era a geração seguinte que o iria pagar. Refiro-me claro está ao facto de todos termos emprego estável e ordenado condizente com uma vida desafogada independentemente da qualificação que temos ser ou não útil à sociedade ou já existir em demasiado número, tal como os nossos pais tiveram, em caso de falta de oferta do privado, um lugar confortável no público e cuja progressão apenas dependia do tempo de serviço não olhando a mérito ou competência e dedicação.
Perante isto, digo eu, já chega, já que ninguém está disposto a continuar a financiar-nos, não poderemos, felizmente, protelar o pagamento desta factura para os nossos filhos, seremos nós obrigados a pagar e se há culpados eles vão muito para além do governo e da classe política, serão aqueles com quem vivemos até à bem pouco tempo ou ainda vivemos. Uns por simples conformismo, falta de formação, ingenuidade ou exploração do instinto de sobrevivência ou pura e simplesmente porque foi essa a mentalidade que lhes foi transmitida e que infelizmente também nos transmitiram a nós. Trata-se de uma mentalidade nacional e portanto a culpa é de todos e de cada um, a classe política é composta por portugueses, que obrigação têm eles de dar o exemplo e serem diferentes?

O sucesso desta manifestação foi fruto de um conjunto de eventos que se sucedeu e que é quase irrepetível. A associação do movimento à música dos Deolinda "Parva Que Sou", o facto de os "Homens da luta" terem vestido a camisola e colado, obviamente também com benefícios próprios, à organização, a visibilidade que tiveram devido a terem ganho o festival da canção, as declarações e comentários, no mínimo provocadores de Manuel Sousa Tavares que terão espicaçado e feito levantar da cadeira muitos jovens adultos, o facto de ser a primeira manifestação em portugal organizada através de redes sociais, retirando partido de um público alvo que nunca tinha participado numa manifestação na sua vida adulta e para terminar sendo precedida pelo anúncio de novas medidas de austeridade(PEC4) que vieram trazer ainda mais gente de outras faixas etárias que se somaram àqueles que estavam solidários com os jovens.
É pena que esta oportunidade tenha sido perdida pois o povo estava unido, mas por um problema, não por uma solução. E diz a minha leitura da história que algo de novo só sai destas uniões quando leva essa mesma união a seguir um líder que tem uma solução, válida ou não. Resumindo, leva a uma ditadura.
O único aspecto positivo que retiro para além dos que já referi é a consciencialização de um país para uma factura deixada à próxima geração e o mote ao debate que até hoje ainda não vi verdadeiramente acontecer.

Muito mais há a dizer e fá-lo-ei em próximos artigos conforme a minha disponibilidade o permita, este foi escrito por pura frustração e impotência mesmo não dispondo dessa disponibilidade.
Tenho 25 anos, sou estudante de Engenharia de Informática e Computadores no ISEL em Lisboa, filho de funcionários públicos, um fiscal municipal e uma professora do ensino básico, não sou militante de qualquer partido e não defendo a queda do governo.
Fui à manifestação, fui...